quinta-feira, 31 de março de 2011

Fukushima – nas ‘rotas alteradas’ um desafio à migração

Por William César de Andrade e Ir. Rosita Milesi
Disponibilizada no site http://www.migrante.org.br/

"Pensem nas crianças/Mudas telepáticas / Pensem nas meninas
Cegas inexatas/ Pensem nas mulheres / Rotas alteradas

Não há meio de comunicação que não esteja noticiando a catástrofe que se abateu sobre o Japão. As imagens são fortes, indicam destruição, mortos e uma usina nuclear se desfazendo. Contra as imagens não há o que dizer e, de fato, ficamos impactados com o volume da tragédia e o sofrimento do povo. E frente aos efeitos da catástrofe nuclear, todos nós estamos correndo riscos de contaminação, tendo em vista que a nuvem radiativa formada a partir do desastre segue ao sabor dos ventos fazendo seu caminho.

 Os números são inexatos –neste momento são mais de 8 mil mortos e quase 10 mil desaparecidos- porque divulgados com parcialidade e sempre incompletos. Mas é preciso lembrar que o número das vítimas diretas do terremoto/tsunamis e desastre nuclear disputa espaço com as notícias de que a Bolsa de Valores (o índice Nikkei) caiu assustadoramente nos últimos dias - mais de 10%, e as empresas japonesas amargam prejuízos. O que os números não revelam é o drama humano de vidas perdidas ou colocadas em extrema vulnerabilidade, famílias que perderam quase todas as suas referências de uma vida sem tribulações: moradia, trabalho, acesso aos equipamentos públicos, laser, vida religiosa... e que só lhes restou migrar para não morrer ou sofrer lentamente os impactos da invisível, porem não menos danosa radiação.

O terremoto e os tsunamis estão dentro da ‘normalidade’ geológica da região, ainda que assuste a magnitude no tremor e o tamanho das ondas. Ainda assim podem ser enquadrados dentro dos riscos habituais que corre a população que vive numa área tão instável. O inexplicável é sem dúvida alguma, a catástrofe que se seguiu, com as explosões e falência da usina nuclear de Fukushima. Será mesmo inexplicável?

A escolha da matriz energética é uma ação do governo, foi uma opção entre outras! E as consequências decorrentes de falhas no funcionamento de qualquer uma delas trás algum tipo de consequência. Nas demais matrizes existentes (eólicas, das marés, solar, hidráulica, geotérmica, etc.), as repercussões acabam circunscritas a uma região ou na pior das hipóteses a um país. Contudo, não é isso o que ocorre com um desastre nuclear, e Chernobyl já havia mostrado como é incontrolável o processo de difusão da radiação uma vez lançada na atmosfera. Engana-se quem imagina um único ponto no céu que viaja carregando a morte (a idéia de nuvem). O que se tem é um fluxo radioativo que, ao sabor dos ventos poderá chegar a milhares de quilômetros do Japão.

Desde as primeiras notícias do desastre na usina nuclear, intensificou-se a movimentação populacional na região. População que já estava sobre o impacto do terremoto/tremores secundários e dos tsunamis que se seguiram. Mesmo que se tenha falado em áreas de exclusão (espaço para a formação de um perímetro seguro), isso não significou redução no sofrimento das pessoas ou a possibilidade de retomada da normalidade de suas vidas.

Os estrangeiros que viviam e trabalhavam na região da tragédia nuclear estão sendo repatriados, com maior ou menor eficiência por seus países de origem. É obvio que estão deixando para trás empregos, projetos pessoais, sonhos e muitos sequer conseguirão voltar ao Japão para retomar o caminho que vinham percorrendo. Em cada país é preciso acompanhar de perto como e em que medida de prontidão esse socorro humanitário está sendo prestado. Isso se agrava na medida em que a radiação avança sobre outras regiões do Japão.

São em torno de 270.000 os brasileiros e brasileiras que vivem no Japão, trazer os que desejam voltar ao Brasil ou apoiar os que decidirem permanecer por lá, é uma grande questão. Assegurar que seus direitos humanos sejam respeitados é um desafio do qual não podemos fugir. A ajuda humanitária precisará se dar de forma diversificada e ao mesmo tempo precisará contar com as parcerias e colaboração que pudermos oferecer. Neste sentido cabem ações de organismos internacionais, governos e da sociedade civil, em favor de todos quantos, seja qual for a nacionalidade, estiverem expostos às consequências destas catástrofes, sejam elas naturais ou decorrentes da ação humana.

Iniciamos essa reflexão com o poema "Rosa de Hiroshima” de Vinicius de Morais. Nele estão refletidos alguns dos mais vulneráveis à bomba atômica: crianças, meninas e mulheres. De fato, estão fora deste poema os homens e os idosos. Durante a Grande Guerra Mundial os homens jovens e adultos estavam nos exércitos e morriam nas batalhas, enquanto os idosos pereciam de fome, frio ou das inúmeras doenças resultantes desta realidade. A atenção do poeta, foi colocada no futuro prejudicado por um presente de destruição. A radiação penetra no interior das células, altera o DNA e por diversos caminhos destrói a vida, seja por meio do câncer – em suas diversas formas, seja pela má-formação fetal. O curso da vida é colocado em Xeque.

Além do desafio da solidariedade, temos outros apelos aos quais não podemos deixar de dar respostas, dentre eles destacamos três:

a) A humanidade precisa realmente da matriz energética baseada em metais radiativos a cuja exposição, seja pela radiação emanada por uma usina defeituosa, seja a partir de resíduos que por séculos continuam ativos, produzem enfermidades e morte?

b) Os sistemas de alerta para catástrofes naturais precisam estar assegurados como um direito coletivo a ser implementado com uma efetiva política pública de segurança para toda a população. Junto com os sistemas preventivos, obviamente devem estar os mecanismos de amparo e proteção às vítimas, inclusive assegurando-lhes todos os direitos fundamentais da pessoa humana. Como efetivar isto como política de Estado, principalmente quando já se sabe do risco de aumento das catástrofes em razão das mudanças climáticas?

c) A migração forçada por catástrofes, sejam elas naturais e/ou provocadas pela imprevidência humana, notadamente dos governos e da especulação que transforma tudo em mercadoria, não precisa ser marcada pela perda de direitos e ruptura da própria dignidade. A migração, mesmo nestas circunstâncias, não retira direitos ou obrigações cidadãs, mas exige um olhar que vá além dos limites das políticas estabelecidas e que supere qualquer outra forma de entrave que dificulte a assistência, a acolhida e a garantia de direitos. De fato será que não chegou a hora de pensarmos prá valer na cidadania universal?
 
Fonte:Adital
 
 

quinta-feira, 24 de março de 2011

É preciso que juízes vejam as pessoas e não apenas os processos.




 Jurista brasileiro Hélio Bicudo

Dos presídios à Justiça

Volta e meia alguém se lembra do problema dos presídios brasileiros. É, sem dúvida, um dos centros de violação dos Direitos Humanos mais expressivos, mas que nenhum de nós quer ver ou saber.
Lugar de bandido é na cadeia. E pronto. Essa questão de que a pena de prisão tem por finalidade o reingresso dos condenados à sociedade é uma utopia. As cadeias e as penitenciárias estão superlotadas e quanto mais superlotadas mais promiscuidade, mais violência, mais corrupção. E as pessoas que estão fora dos muros da prisão sentem-se protegidas.
E os governos? Ou não fazem nada para minimizar a situação e olhar o presidiário com um mínimo de respeito devido a qualquer pessoa, ou apelam para a “necessidade” de construção de novos presídios. Quanto maiores, melhor; nós temos penitenciárias que “abrigam” mais de mil condenados.
O diretor de um presídio – ontem um personagem importante na recuperação do preso – hoje está atolado na processualística imposta pela burocracia e exerce suas funções apreciando os processos que se acumulam em sua mesa. Não conhecer sequer um detento, mas apenas o número deles.
O trabalho, por exemplo, que é uma atividade voltada para a recuperação do detento. Pode ser que exista em um ou outro presídio para efeito externo. As visitas importantes são encaminhadas para aqueles que têm menos presos e alguma atividade na área da recuperação. Mas a grande maioria permanece ociosa e sujeita à violência e à corrupção.
Os presídios brasileiros não têm refeitório. A comida é servida nas celas, sem talheres. Trata-se de uma comida de má qualidade, terceirizada, com vantagens para os contratantes e puro descaso para com aqueles a quem é destinada.
Em celas superlotadas – muitas delas criadas para abrigar apenas uma ou duas pessoas – são entulhados mais de dez presos, sem qualquer programa educativo. Não se pode dizer que vivem, mas vegetam, e depois voltam às ruas sem terem passado por um processo de recuperação.
Os réus são condenados por uma Justiça burocratizada, em que as sentenças ignoram as pessoas para se ater apenas às informações dos órgãos policiais e de testemunhas ouvidas às pressas, para minimizar o natural acúmulo de casos, decorrente de um sistema centralizado e ineficiente de distribuição de Justiça.
Enfim, de nada serve construir novos presídios porque logo em seguida estarão superlotados. A providência eficaz é fazer com que os juízes vejam as pessoas e não apenas os processos. Para que isso aconteça, é preciso que se instalem distritos judiciários com não mais de 30 mil pessoas, permitindo que haja, realmente, uma interação entre juiz, promotor, defensor e partes, sem o que a Justiça não se fará.
Como se vê, da superlotação das prisões vamos para a necessária reforma da estrutura dos juízos de primeira instância, uma vez que Justiça burocratizada não é Justiça.
Seria fundamental que se tomasse a peito uma reforma profunda de todo o sistema, desde a polícia, passando pelo Ministério Público e, por fim, pelo Judiciário, a fim de que o acesso à Justiça não seja, como é hoje, uma utopia.
Justiça é direito de todos. É Direito Humano.

segunda-feira, 21 de março de 2011

ONU recebe denúncia sobre a situação dos defensores de direitos humanos na Paraíba

As organizações de Direitos Humanos Dignitatis- Assessoria Técnica Popular, Gabinete de Assessoria Jurídica a Organizações Populares (GAJOP) e Justiça Global enviaram ontem (17), à Organização das Nações Unidas (ONU) um informe sobre a situação de violência sistemática sofrida pelos Defensores/as de Direitos Humanos no Brasil e as tentativas de intimidação sofridas por associados da Dignitatis.

O informe também será entregue ao Programa Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos. As organizações esperam que o relatório provoque a ONU e principalmente o Estado Brasileiro, chamando atenção da comunidade internacional e do país para a situação em que se encontram os Defensores de Direitos Humanos no Brasil.

Fonte:Adital


quinta-feira, 17 de março de 2011

Entidades realizam ato público e ecumênico pelo fim da violência contra defensores/as de direitos humanos

No dia 21 de março, o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), o MNDH Regional de São Paulo e o Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana (Condepe) irão realizar um ato público e ecumênico contra a violência aos defensores de direitos humanos. O evento acontecerá às 18h30 na Câmara Municipal de São Paulo.

As entidades defendem que o Estado brasileiro e os demais Governos da Federação devem garantir a vida de todos, e não pode permitir que agentes que lutam pela democracia e pelos direitos humanos sejam alvos de ameaças e ou assassinatos. Devemos exigir punição exemplar aos assassinos e aos ameaçadores, além de que exigimos toda proteção aos militantes das causas sociais e lideres comunitários.

Fonte:Adital

sexta-feira, 11 de março de 2011

Justiça às crianças abandonadas pelo Estado*

Nelson José de Castro Peixoto
Filósofo e Conselheiro de Direitos. Gestor de Aldeias Infantis SOS Brasil, em Brasília

Quem faz gestão de Entidades da Sociedade Civil a serviço de crianças, adolescentes e jovens que precisaram ser afastados de suas famílias de origem, por medida de proteção, saberá do que estarei escrevendo, e quem não está habituado a essa labuta ficará certamente sem sombras sobre o assunto.

Há uma tendência cada vez mais frequente entre colegas na luta Pró Direito à Convivência Familiar e Comunitária por uma definição dos serviços a contribuir com o Estado que será politicamente mais acertada. Esta exigência emerge no horizonte já presente e se caracteriza dentro de uma conjuntura de corresponsabilidade no trato da Prioridade Absoluta da Constituição Federal: Crianças, adolescentes e jovens. É pauta que se discute nesses fóruns.

Devemos deixar para o Estado e sempre pressioná-lo para cuidar das vítimas que fez, reparando a ausência de políticas publicas que resultaram num contingente de crianças sem cuidados parentais, envolvidas no consumo do crak, e no caminho de infrações, replicando a violência que sofreram. Essa é a ação restauradora do Direito que as Promotorias de Defesa da Infância e da Juventude exigirão dos governantes e não mais dos Serviços de Acolhimento. Ora, por que cobrar de quem não deve é desvio operacional, ilegalidade.

O exemplo pode respaldar-se em 42 anos das Aldeias Infantis SOS Brasil, em Brasília. Como Entidade da Sociedade Civil contribuirá sobremaneira com o Estado para prevenir, fortalecer as famílias e empenhar-se-á para efetivar políticas básicas do SUAS/ SUS, da Educação Infantil e de Moradia, a fim de barrar novas levas de crianças e adolescentes que caminham para o sistema prisional decadente ainda muito longe do modelo SINASE.

Agiremos daqui pra frente por respeito às 600 crianças que foram acolhidas, entre as quais 490 reintegradas numa média de permanência de 4 anos longe de casa, aos 87 que se emanciparam aos 21/18 anos de idade. Com essa base estatística e ética podemos decidir e exigir um "basta” aos que receberão ainda no futuro essa medida de proteção, quase sempre porque o Estado não garantiu creches, nem casa própria, nem espaços de tratamento de saúde mental (crack e álcool).

Entre outros direitos negados, o que restou dentro do modelo capitalista excludente e uma democracia de arremedo foi o não cumprimento da Constituição, com o aprofundamento da miséria e da exclusão que vitimou as famílias e estas aos seus mais frágeis membros.

A história das entidades mostra que muito serviu para acomodar o Poder Executivo na responsabilização principal que devia ter com a proteção da Infância sem cuidados parentais. Mais do que nunca, a complexa situação das crianças nessas condições exige profissionalização, especialização de técnicos, equipes psicossociais ampliadas, duplas de cuidadoras sociais residentes, o que depreende um ORÇAMENTO CRIANÇA volumoso. Para essas entidades, cujos membros e apoiadores já são tão tributados fica a incapacidade de dar conta de todas as demandas conforme previsto nas Orientações Técnicas para os Serviços de Acolhimento. Por exemplo, acompanhamento individual personalizado por 24 horas.

Torna-se tendência e única opção das Entidades que se o Estado não fizer a sua parte celebrando Convênios, não há como continuar prestando os serviços de acolhimento. Não restam dúvidas de que um dos grupos meta das Aldeias Infantis no Planalto Central focará o trabalho preventivo dentro das comunidades localizadas fora do Plano Piloto. Pois se considera que o "lugar social” onde se encontra hoje não apressa e nem assegura o direito à convivência familiar na Rede de Proteção Social. Depois de 42 anos no meio da classe média, vai deslocando-se para as Regiões Administrativas de Brasília onde a vida acontece e os indicadores sociais apontam e possibilitam mudanças com maiores impactos.

As Entidades estão discernindo como se dissessem nesse caso que "quem pariu Mateus que o embale”. Não como gesto de desprezo às vitimas que o Estado fez, mas como feito de sábia responsabilidade. Fato é que se torna impossível garantir os direitos que essas vítimas precisam para alcançar maiores índices de resultados terapêuticos e de socialização. Aceitar essa responsabilidade sem recursos do Estado é pura irresponsabilidade, pois é dever do Estado prioritariamente tal tarefa reparadora.

A Justiça Restaurativa nessa questão exige muitos recursos humanos e financeiros. É resiliência das Entidades trabalhar a atualização de sua missão e ir até à fonte de sua intuição fundacional. Deverão deslocar-se para a defesa integral de Direitos, efetivando parcerias com o intuito do fortalecimento comunitário e do desenvolvimento de competências nas famílias, assim como no Advocacy dentro dos Conselhos de Direitos, Conselhos Interesetoriais, Forum e Redes Sociais de Entidades e Órgãos Governamentais. Preparar-se para defender juntamente com o Estado, crianças, adolescentes e famílias em situações de emergências, tais como os refugiados políticos e climáticos que estão por vir.

As Aldeias Infantis SOS Brasil já estão atuando nas Regiões Administrativas no Norte e Nordeste do Distrito Federal para atendimento na modalidade de Casas Lares, mas apenas para àquelas crianças identificadas como necessitadas de cuidados parentais, quando esgotadas todas as possibilidades, mas em condições de atendê-las com a qualidade requerida. Certamente o atendimento destas crianças, adolescentes e jovens deverá acontecer quando responder ao interesse superior de cada uma delas mediante a participação e responsabilização também pelo Governo do Distrito Federal – via Administrações Regionais.

Apesar de entregar para o Estado os serviços de acolhimento, diminuindo o número dos atendidos, as Entidades comprometem-se a permanecerem fiéis na luta por uma infância feliz, segura e protegida. Centraram com maior inteligência e sustentabilidade com as crianças ainda enquanto convivem com seus responsáveis diretos e no seio das famílias de origem. Aí atuarão prioritariamente em ações de Fortalecimento Familiar e comunitário.

Dessa forma, nas estações dos Direitos Humanos, crianças, adolescentes e jovens protagonizarão um Brasil de Todos, como espaço de Liberdade, de Justiça e de Direitos em suas famílias.

Fonte:Adital

Caso Cacique Veron. Os condenados absolvidos

Egon Dionísio Heck
Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul

Diante das distintas avaliações do julgamento de três dos participantes da crueldade, com requinte de operação militar, desencadeada contra a comunidade Kaiowá do tekohá Takuara, no município de Juti-MS, nos dias 12 e 13 de janeiro de 2003,gostaria apenas de fazer algumas observações.

O que estava em julgamento era um crime e muito mais. Estava na cadeira de réu uma história secular de impunidade e violência. Estava na cadeira dos réus muito mais do que três peões de fazenda que aceitaram exercer a função de pistoleiros e assassinos de índios. Estava na cadeira dos réus o preconceito, o racismo, a discriminação que alimenta o ódio das elites econômicas e políticas da região, se espalhando como praga nas mentes e corações de milhares de cidadãos que continuam negando aos índios seus direitos mais elementares de ser, de viver, de ter sua terra. Estavam na cadeira dos réus dezenas de assassinatos de lideranças indígenas, cujos executores e mandantes , que continuam impunes.

Quando a defesa dos réus procurava inocentar seus clientes dizendo que Marcos Veron não era índio, era um "paraguaio”, destilavam o mais fino requente de discriminação contra nossos vizinhos, contra os quais nosso país comandou um dos maiores genocídios do continente. Quando os réus diziam que na fazenda tinha muito foguete para espantar os urubus, nivelaram os Kaiowá aos urubu que se espanta com foguetório.

Quando a defesa dizia, com sua verborragia rebuscada e irada, de "O Mato Grosso do Sul é um outro mundo”, fora da compreensão dos senhores jurados, e que portanto o julgamento jamais deveria ter sido deslocado de Dourados para São Paulo, certamente não propugnavam pela lisura de um julgamento, mas simplesmente apostavam na inocência dos seus fregueses, naquela conjuntura.

Entendo a indignação com que inúmeras instituições e pessoas pelo mundo afora receberam a decisão de absolver os réus do crime de homicídio e tentativa de homicídio. Foi esse o entendimento a que chegaram os senhores jurados, depois de cinco dias depoimentos e exposição dos fatos e suas razões. Entendo a contrariedade com o resultado, manifesta pelos Procuradores do Ministério Público Federal, dispostos a recorrer da decisão. A defesa depois comemorar a absolvição dos crimes de homicídio, prometeu recorrer da decisão de terem sido condenados por três crimes: seqüestro a mão armada, tortura e formação de quadrilha. Resultado que derrubou todas as versões plantadas para inocentar os réus.

O processo de 27 volumes, com mais de 7 mil páginas teve uma decisão, que, conforme as partes, resultou em "vitória parcial”, como informou o Procurador Marco Antonio Rufino aos indígenas, antes mesmo da sentença ser pronunciada pela Juiza.

O recado está dado:

Nenhum matador de índio, no Mato Grosso do Sul, vai daqui pra frente dormir tranqüilo achando que não vai enfrentar a barra dos tribunais.

Será acelerada a conclusão do processo pelo Ministério Público para que os outros 24 réus arrolados no segundo processo sejam julgados o quanto antes. Dentre eles está o proprietário da fazenda Jacinto Honório da Silva Filho, o mandante da violência, Nivaldo Alves de Oliveira, o acusado de desferir as coronhadas que mataram o cacique Marcos Veron e o ex-policia da DOF, que tramou toda a operação de forma militar.

Existirá maior pressão nacional e internacional para que não continue essa violência e impunidade, que os crimes sejam punidos e os direitos especialmente às suas terras, respeitados.

Os Kaiowá Guarani presentes no julgamento, especialmente a viúva dona Julia e seus filhos, procuraram fazer do julgamento, e mesmo do resultado que ficou aquém do esperado, procuram fazer de todos esses dias, momentos de muita reza, de busca de paz, vida e dos direitos de seu povo. Ao deixarem a casa de acolhida, onde ficaram hospedados, ouviram dos diretores da casa: essa foi a delegação que mais marcou essa casa até hoje”. Da mesma forma gostariam de seguir como arautos da justiça e da paz.

Povo Guarani Grande Povo
Dourados, 3 de março de 2011


Fonte:Adital

quinta-feira, 10 de março de 2011

Carta aos Três Poderes - Caso Gomes Lund

A AJD - Associação Juízes para a Democracia subscreveu  a “CARTA ABERTA AOS TRÊS PODERES”, manifesto a ser enviado aos 3 poderes da República e ao Ministério Público Federal pelo cumprimento integral da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no Caso Gomes Lund, que será entregue em breve, pois acredita que o cumprimento da sentença será um marco na construção dos direitos humanos no Brasil.

Pedimos que somem-se a esta frente e assinem a carta encaminhando resposta para cumprimentoaraguaia@gmail.com e identificando-se em qual categorias abaixo quer ser incluído, colocando o nome respectivo ao lado:

a)  nome da organização/entidade da sociedade civil, ou b) familiar de mortos e desaparecidos políticos, ex-presos e perseguidos políticos, ou c) Juristas, intelectuais, artistas e defensores de direitos humanos. 

A Corte considerou denegação de justiça a impunidade em que permanecem esses crimes até os dias de hoje, amparados pela interpretação da Lei de Anistia que erroneamente foi estendida aos agentes publicos e privados da repressão que cometeram graves violações de direitos humanos.

Os crimes do passado que permanecem impunes incidem na realidade atual. A tortura, a execução sumária e os desaparecimentos forçados sempre estiveram presentes na nossa história, antes mesmo da instituição da República. Na ditadura militar estas práticas se institucionalizam e passam a fazer parte dos métodos recorrentes de investigação e simulação de confrontos entre “suspeitos” e policiais. A chamada herança só mudou o público alvo: antes empregada contra opositores polítcos, atualmente privilegia a população de baixa renda, jovem e afrodescendente.

Em nenhum tempo, de paz, de ditadura, de conflito armado, os agentes públicos, em nome do Estado ou da segurança nacional, podem cometer crimes contra os cidadãos sem que sejam responsabilizados. 

Precisamos enfim construir o “Nunca Mais” no Brasil, como os países vizinhos já tem feito.

Apesar de medidas objetivas determinadas pela Corte Interamericana como a investigação dos crimes sem que se utilize qualquer artifício para impedir a investigação, o Estado brasileiro não iniciou o cumprimento da sentença internacional.

Os familiares das vítimas e as entidades que os representam no processo internacional (CEJIL, GTNM-RJ e CFMDP-SP) com o apoio de juristas e entidades da sociedade civil elaboraram a “Carta aos Três Poderes” que está anexada a esta mensagem, com o objetivo de exigir o efetivo cumprimento da sentença .

Pedimos que repassem para as entidades parceiras.

Saudações

Conselho Executivo da Associação Juízes para a Democracia

Fonte: AJD


terça-feira, 8 de março de 2011

Fórum de Mulheres de Pernambuco realiza ação no carnaval pelo fim da violência

Lutar pelo fim da violência de gênero, pela autonomia e liberdade para todas as mulheres. É com esse objetivo que o Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMPE) sairá às ruas durante o carnaval alertando a população sobre os graves problemas enfrentados pelas mulheres e lutando por seus direitos. Haverá ações em diversos pontos de Recife.

"Esse ano, o Dia Internacional da Mulher é comemorado na terça-feira de carnaval. Lançamos um manifesto por liberdade e autonomia para todas as mulheres, e queremos aproveitar os dias de folia para reafirmar nossos direitos”, explica a coordenadora do Fórum, Sílvia Camurça.

O manifesto e a programação completa das atividades estão disponíveis em:
http://www.grupocurumim.org.br/site/noticias.php


Fonte: Adital

quarta-feira, 2 de março de 2011

Carnaval 2011

SINEPE-CE
Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará
 
Campanha deflagrada pelo SINEPE-CE com o apoio de todas as instituições de ensino governamental e não governamental.

O carnaval altera o ritmo normal das pessoas, tanto por ser um longo período de feriados, como pelo clima de brincadeira e diversão, com forte apelo ao prazer. Até aí, tudo bem. Nada a reclamar. Só que os limites do proceder de cada um tem por base a sua formação e a maneira como foi educado. E neste particular, existem falhas, o que provoca erros, com grandes prejuízos para a pessoa em si, seus familiares e toda a sociedade. Em muitos casos, uma simples palavra, uma pequena orientação evitaria grandes aborrecimentos.

O resultado do carnaval divulgado sempre entre 4ª e 5ª feiras, tem sido a cada ano assustador. O número de mortes em acidentes de trânsito e por homicídios é muito grande. E o pior é que a causa principal tem sido, disparadamente, o consumo de bebida alcoólica. A conseqüência não podia ser outra: PERDA!

É um crime ficar calado diante dessa situação.

Necessário se faz um movimento prévio de conscientização da prática de uma comemoração saudável e feliz, onde todos voltam do feriado numa boa, em paz e dispostos a recomeçar suas atividades com uma agradável sensação e a consciência tranqüila.

A vontade de todos nós que participamos desse Projeto é fazer uma tremenda revolução! Esta cartilha propõe um belo e sutil toque nas pessoas, através, simplesmente, de conselhos, recomendações e pequenas orientações, divulgadas na base da colaboração e boa vontade de todos quantos se sensibilizam com a paz social e a qualidade de vida.

Recomendamos que todas as instituições de ensino divulguem junto aos seus funcionários, professores, alunos e pais textos e frases da campanha educativa.

Não devemos esquecer o grande valor das recomendações e do controle por parte da família aos seus membros.
Leia a Cartilha na íntegra: Cartilha Carnaval

Fonte:Adital